O carro chega. O motorista está apressado. É a primeira vez que José vai sair da sua terra natal. Tão jovem: apenas quinze anos. Foi assim com todos os seus irmãos mais velhos, e será com ele. Está ansioso, apesar de seu irmão mais novo acompanhá-lo até a rodoviária. Ele sabe que de lá em diante será ele e Deus, mas carrega consigo uma ideia fixa de que Santos (SP) é uma cidade linda, onde os baianos saem com roupinhas simples e, voltam com roupas de surf.
*Deivison Conceição: Formado em Letras pela Fac. Dom Luiz e coordenador pedagógico da Escola Dr. Décio de Santana Curral Falso |
Antes de embarcar no ônibus, José relembra quais são seus objetivos: trabalhar numa pizzaria ou em algum bar, inicialmente de ajudante de pedreiro ou lavando pratos, pois sabe que seus conhecimentos adquiridos na sexta série com cara de quarta, não lhe dão grandes oportunidades. Após achar o esperado emprego, o mesmo irá contribuir junto com outros quatro amigos no aluguel, na comida e nas contas do barraco. O que sobrar de dinheiro ele vai guardar para comprar o objeto de desejo de nove entre dez adolescentes sem perspectivas de vida e que moram em lugares longínquos: uma moto. Quando conseguir comprar a tão sonhada máquina, ele verá que ter moto em Santos (SP), não tem nenhum glamour. Então pedirá demissão (de seu digno emprego) e retornará a sua terrinha natal. Mas ele sabe que para impressionar os bobos e bocós, ele terá que falar "artificialmente" o "santista", usar aquelas roupas de surf, e terá que sair com sua máquina todo fim de semana para impressionar as gatinhas que possem um Q.I. compatível com o seu. Ele sabe. Ouviu e vivenciou que as mulheres de sua terra natal dão em cima de homens que tenham veículo.
Logo após o dinheiro se esgotar, o mesmo terá que voltar para Santos, a sua agora terra natal. Irá trabalhar muito novamente. Trocará de monto e comprará alguns eletrodomésticos, de preferência nas Casas Bahia onde muitos adoram comprar e esquecer a dívida. Daí você já sabe... A história irá se repetir, e o ciclo dificilmente será rompido.*Crônica de Deivison Conceição
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