Nestes últimos meses muitas pessoas pararam de frequentar a missa do domingo, apesar de termos acrescentado mais uma. Quantas missas tive que desmarcar nas comunidades da zona rural! Lembro-me de uma comunidade em que cheguei e o pessoal estava tudo arrumado para ir ao comício: nem se preocuparam de avisar o padre para ele não fazer uma viagem a toa. Além disso, alguns eventos importantes da nossa caminhada foram desmarcados, como por exemplo, a caminhada bíblica. Muitos jovens dos grupos de Crisma, seja da zona rural que da cidade, neste período eleitoral pararam de frequentar a missa nos domingos e os encontros formativos. O dado mais chocante, do ponto de vista eclesial, é ver as comunidades divididas, pessoas de cara fechada por causa da política. O espetáculo mais vergonhoso, que ninguém merece assistir, é ver pessoas de igreja pirraçando o pessoal do grupo que perdeu. Com que cara de pau depois se apresentam na igreja para comungar? Cadê o sentimento de caridade cristã, de compaixão, de misericórdia?
Perante este quadro alucinante me pergunto: a que serve a Igreja? A que adiantaram tantas missas, tantas pregações, tantos encontros formativos? A que adiantou o Estudo Bíblico semanal realizado nestes últimos três anos? A que adiantou o intenso trabalho formativo realizado com os jovens da cidade e da zona rural? A que serviram os retiros espirituais? Por quê incentivar a catequese das crianças, os grupos de coroinhas se durante os meses eleitorais os pais carregam os filhos (até as crianças!) para participar dos comícios e os deixam a vontade perante os compromissos com a Igreja? A que adiantaram tantos quilômetros em cima duma bicicleta para visitar as famílias, as comunidades?
A verdade de um caminho de conversão se manifesta quando Jesus se torna o Senhor da nossa vida, quando as suas Palavras influenciam as nossas decisões, os nossos atos, as nossas atitudes, quando a sua logica se torna a nossa. Até quando um comício politico é mais importante de uma missa, significa que Jesus ainda não é o nosso Senhor e nem é muito importante na nossa vida. Até quando o partido político é mais importante da nossa caminhada da Igreja significa que estamos bem longe de Deus. Internalizar a Palavra de Deus significa se colocar a disposição do projeto de Deus, que é um projeto de justiça e de comunhão. Quantas vezes falei isso nas homilias! Só que os interesses pessoais falaram mais forte. E assim perdemos a moral. De fato, que moral de agora em diante teremos perante os adolescentes da nossa paróquia!? Como poderemos pregar para eles o Evangelho de Jesus, apontar o Caminho quando por três meses este mesmo Caminho foi esquecido ou deixado pra trás? Talvez lendo estas linhas alguém pode achar que estou exagerando, ou sendo radical demais, mas são estas as sensações que estou sentindo nestes dias, ou seja a sensação de todo um trabalho formativo e espiritual jogado no lixo.
São Paulo escrevia: “É preciso que haja divisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados” ( 1 Cor 11, 19). A bagunça das eleições municipais manifestou claramente quem é quem na nossa caminhada da Igreja. Será em cima dos destroços destas eleições que estaremos reconstruindo uma nova caminhada. Talvez o preço a ser pago será duro demais, mas, como nos ensina o profeta Jeremias, é impossível plantar sem antes arrancar aquilo que não presta; é impossível construir algo de novo sobre um edifico velho (cf. Jer 1, 4-11). O mesmo Jesus afirmava que o vinho novo necessita de odres novos. Será a construção destes odres novos o trabalho pastoral que teremos para frente. Amém.
Pe. Paolo Cugini
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