quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

"Professor só, óh, de papo pro ar"

O assunto mais comentado dos últimos dias desse fim de ano, foi a espera do abono/rateio das sobras do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) que, possivelmente, poderia ser feito pelas prefeituras. Em algumas, o fato ocorreu. Eu outras não, se baseando em amparos legais claros (que nunca vai haver) ou nas possíveis sobras.

Imagem capturada da tela da live
do programa Voz da Cidade
Mas, o fato mais intrigante, e que chamou a atenção dos profissionais do Magistério, foi a fala do locutor Edson Santarini, (foto à esquerda) da Pombal FM, onde ele, no programa Voz da Cidade (hoje, 30), opinou sobre onde e como deveria ser gasto o dinheiro do Fundeb (que isso já está em lei, independente da opinião dele ou de qualquer pessoa. Isso já é Lei). Até ai, nenhum problema. Ele - e qualquer um - pode expressar sua opinião. Nossa Constituição permite isso. Porém, o locutor chegou a dizer (nas entrelinhas) que o Professor está ganhando, durante dois anos, sem trabalhar. Leia a transcrição do áudio do locutor:

"..tem que gastar é com atualização; tem que gastar com cursos, notebook com condições pro professor trabalhar, não pegar o dinheiro e ratear entre professores. Eu não concordo. Porque não é assim com as outras áreas. Pode ser leis. Eu não concordo. Porque tem a Secretaria de Cultura também (...), tem Saúde... Ainda mais professores, que nos últimos dois anos, viu? Só, óh... de papo pro ar. Então, quem não gostou, que num goste! Minha missa é de corpo presente. (...) Não concordo com rateio de dinheiro nesse sentido. Investe no professor. Compra o que ele quiser. relógio, roupa, fardamento, notebook... mas dinheiro no bolso, só salário ou hora extra ou talvez até uma gratificação." (Veja vídeo nesse link, no horário de 7h02min)

 Entendo que, enquanto jornalista (ou pessoa comum, como mencionei acima), ele pode exprimir sua opinião, mas sempre respeitando os demais profissionais. Nada contra ele emitir sua opinião sobre os gastos, mas sem faltar com o respeito a esses profissionais que "abriram suas casas" nesses dois últimos anos de pandemia. Tivemos a particularidade e a intimidade do nossa lar escancarados, a fim de transformar nossas casas em sala de aula, para que a Educação não parasse. Transformamos nossos computadores e celulares lousa branca ou escura; tivemos que pedir ajuda aos nossos filhos, netos ou sobrinho (e até a pessoas que não são do seu convívio familiar) para operarem um celular, tablets ou computador em aplicativos e sites de reuniões; tivemos que nos reinventarmos, criarmos meios e mecanismos para continuarmos desenvolvendo a Educação; se "desmanchando" para gravar vídeos ou fazê-lo online; foram feitas buscas ativas de estudantes; foram entregues atividades em domicílio dos estudantes; fazíamos atendimentos individuais aos discentes a qualquer hora do dia, até na madrugada, e dormindo tarde e acordando cedo para fazer buscas/pesquisas de novas atividades que pudessem ser adaptadas ao tempo da pandemia. Mas não paramos com o nosso ofício, e nem tampouco ficamos de "papo pro ar". O Senhor ser contra o rateio, concordo! Embora eu quisesse que fosse feito. Mas ao menos nos respeite, como nós respeitamos aos Senhores enquanto pessoas e profissionais. E não esqueça: para ser o profissional que o Senhor é - que por sinal eu o admiro -, o senhor passou pelas mãos desses que "vivem de papo pro ar". Não só essa profissão, mas todas as outras. Porém, o que se vê, são várias classes desmerecendo, menosprezando e despeitando a classe do Magistério. 

Como as demais classes, temos Leis específicas que nos norteiam e organiza nossa forma de trabalho. Sem contar as várias resoluções e decretos que foram emitidos nesses últimos dois anos para adaptar os rumos da Educação: LDBEM (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394 de 20 de dezembro de 1996) que orienta todo o processo educacional; O próprio FUNDEB, que orienta o destino dos recurso financeiro a ser usado com os Profissionais da Educação; bem como a Lei do Piso (11.738, de 16 de julho de 2008), que regulamenta sobre o valor do piso salarial, como também da distribuição das atividades, onde 2/3, isto é 13 horas de 20 horas, deverão ser exercidas em sala de aula, e 1/3 dessas 20 horas, deverão ser desenvolvidas extraclasses, sendo que esta última, na prática, supera a essa número de horas (como ultrapassamos essas horas? Conviva com alguém que é professor). Bem! Se fosse pra citar as leis que nos regem enquanto educadores, tomaria muitas linhas nesse post. Além dessas leis, normas, decretos e resoluções temos os vários órgão que fazem as mesma ações citadas acima. Então, o Senhor ainda vem dizer que estamos de "papo pro ar" nesses dois últimos anos? O Radialista está no mínimo equivocado. Se o mesmo não tem filho, neto ou sobrinho em idade escolar ou se tem e não acompanhou suas atividades escolares, aí não é problema do professor. 

Para todos os investimentos que o radialista mencionou existe o recurso para isso chamado, anteriormente, de 40% (Fundef), e, atualmente, de 30% (Fundeb). Quem, em alguns lugares, gastou quase 100% dos recursos dos precatórios que não entra nessa seara do rateio. A verdade é como diz um amigo meu, "no discurso todos são favoráveis aos professor e sua valorização, já na prática são poucos." Alguns gestores resolveram antecipar gastos de 2022 com o dinheiro do rateio de 2021, alguns indenizaram licença prêmio, outros anteciparam o pagamento de férias e assim sucessivamente.  Pelo visto, o Senhor não conhece nenhuma realidade da educação e muito menos da realidade dos professores.

Repito: respeito sua opinião. Mas analise direito o que está dizendo. Jamais irei generalizar minha opinião sobre locutores e/ou jornalistas por causa de um incidente desse. Mas deixo aqui o meu repúdio a este ato desrespeitoso praticado pelo Senhor.

Professor Josivan Ribeiro da Costa



4 comentários:

Anônimo disse...

Um sem vergonha desse, que moral tem pra falar uma coisa dessa? O professor ficou até doente tentando passar para os alunos o melhor aprendizado possível, não tem carga horária certa, trabalho de dia, D noite, de madrugada, feriado, final de semana, ainda vem dizer que o professor ficou de cara pra cima sem fazer nada... vergonhoso

Antonia Dantas disse...

Ele foi muito infeliz no comentário dele eu só peço mais respeito se ele quer puxar o saco dos gestores..
Menos viu meu senhor acho q a classe PROFESSOR merece mais respeito

Unknown disse...

Locutorzinho!mais respeito com a classe que fez tudo pra vc chegar até aqui, da forma que tu vai, pode ficar por aqui mesmo.
Professor merece respeito parte dele a maior parcela de educação que nós adquirimos, ou vc cortou a fila pra estar no rádio.
Pessoas como vc nos faz vergonha.
Se tu tens filhos será que estão à estudar? Ou será que vivem perobolando por aí?.

Unknown disse...

Dizer que os professores estão de papo pro ar é uma prova de falta de conhecimento não sou da área...mas observo o corre corre ...se o predatório deve ser pago pra educação aí sim ...investir melhor pra oferecer melhores condições de trabalho....digo isso porque muitos falaram pra receber pra uso pessoal ...pode ter certeza que nada seria investido na educação....mas fico me perguntando esses valores desde 1965 esta lá porque isso agora ....que lei é essa .....