A estudante de Direito Mayara Petruso atendendo ao chamado da campanha tucana que transformou a campanha numa guerra entre gente limpinha e a massa fedida, principalmente a que reside no Nordeste e vive do Bolsa Família, escreveu as mensagens reproduzidas acima na noite de domingo, logo após o anúncio da vitória de Dilma Roussef.
A estudante é uma típica paulistana de classe média alta. Um tipo que não gosta de estudar, adora consumir e que considera nordestino um ser inferior. Nada mais comum em almoços de domingo nos ambientes dessa elite branca paulistana do que ouvir gente falando coisas semelhantes ao que escreveu Mayara Petruso na sua conta no tuiter. Na cabeça da menina, ela não deve ter falado nada demais. Afinal, é isso que deve ouvir desde criança entre familiares e amigos.
Fui ao orkut de Mayara para checar minhas desconfianças. E confirmei tudo que imaginava. Ela deve morar na região Oeste de São Paulo, onde vive este blogueiro há muito tempo e onde este preconceito é ainda mais latente do que em outras bandas da cidade. Digo isto porque uma de suas comunidades é a do “Parque Villa Lobos”. Se morasse na Mooca provavelmente nem se lembraria de tal parque. Se vivesse nos Jardins, citaria o do Ibirapuera.
Mas há outras comunidades que revelam mais profundamente a alma da “artista” que escreveu o post mais famoso do pós-campanha. Um post que levou o debate sobre a questão do preconceito ao Nordeste ao TT mundial no tuiter.
A elas: “Perfume Hugo Boss, Eu acho sexy homens de terno, Rede Globo, CQC, MTV, Magoar te dá Tesão? e FMU Oficial”.
Não vou comentar suas comunidades “Eu acho sexy homens de terno” e nem “Magoar te dá tesão?” por considerar tais opções muito particulares. Mas em relação ao fato da moça estudar na FMU, a Faculdade Metropolitanas Unidas, queria fazer algumas considerações. Nada contra a instituição ou aos que nela estudam, mas pela situação social da garota, ela deve ter estudado em escola particular a vida inteira e se fosse um pouco mais esforçada teria entrado numa faculdade onde a relação candidato/vaga é um pouco mais dura.
Ou seja, como boa parte dessa classe média alta paulistana, Mayara é arrogante, mas não se garante. Muita garota da periferia, sem as mesmas condições econômicas que ela deve ter conseguido vôos mais altos, deve já ter obtido mais conquistas do que a de poder consumir o que bem entende por conta da boa situação financeira da família.
Ontem, Mayara pediu desculpas pelo “erro”. Disse que afinal de contas “errar é humano” e que “era algo pra atingir outro foco” e que “não tem problema com essas pessoas”. Não desceu do salto alto nem pra se penitenciar. Preferiu fazer de conta que era uma coisa menor, ao invés de pedir perdão, afirmar que era um erro injustificável e que entendia toda a revolta que seu post produzira.
“MINHAS SINCERAS DESCULPAS AO POST COLOCADO NO AR, O QUE ERA ALGO PRA ATINGIR OUTRO FOCO, ACABOU SAINDO FORA DE CONTROLE. NÃO TENHO PROBLEMAS COM ESSAS PESSOAS, PELO CONTRARIO, ERRAR É HUMANO, DESCULPA MAIS UMA VEZ.”
Ela foi criada para isso. Para dispensar esse tipo de tratamento a nordestinos e pobres e por isso a dificuldade de ser mais humilde. É difícil para esse grupo social entender que preconceito é crime por ensejar um tipo de xenofobia que coloca quem o pratica no mesmo patamar de um tipo como Hitler. Ela odeia nordestinos. Ele odiava judeus. A diferença é que ela não pode afogar de fato aqueles que vivem na parte de cima do mapa. Já o alemão pôde fazer o que bem entendia com aqueles que julgava ser um estorvo na sociedade que governava.
Mas Mayara é o produto de um tipo de discurso. Ela não merece ser responsabilizada sozinha por isso. Talvez seja o caso de alguma entidade vinculada à cultura nordestina mover um processo contra a estudante. Menos pra tirar dinheiro ou coisa do gênero, mais para utilizar o caso como exemplo. E fazer com que ela atue em espaços vinculados à cultura da região para aprender a ter mais respeito com a história e com o povo dessa parte do Brasil.
Os verdadeiros culpados são outros. São aqueles que com seus discursos preconceituosos têm alimentado esse separatismo brasileiro. E em boa medida isso se dá pela nossa “linda e bela” mídia comercial e mesmo pela manifestação de um certo setor da política que sempre que pode busca justificar a vitória da aliança liderada pelo PT como produto do “dinheiro dado a essa gente ignara e preguiçosa que vive no Nordeste a partir do Bolsa Família”. Ou Bolsa 171, nas palavras de Mayara.
Mas esse comportamente também é produto de um tipo de preconceito velhaco que nunca foi combatido de forma educativa e que é alimentado diariamente nos ambientes familiares dessa elite branca. Cláudio Lembo sabia do que estava falando quando usou essa expressão. Ou começamos a discutir esse preconceito com seriedade, tentando combatê-lo com leis claras, educação e cultura ou corremos o risco de mesmo avançando em aspectos econômicos, retroceder do ponto de vista de outras conquistas democráticas.
Afinal, ainda há quem ache que pregar a morte daqueles que pensam diferente é apenas um problema de foco.
Fonte: revistaforum.com.br
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