sábado, 29 de setembro de 2012

Crônica - O casal mandacaru

Crônica de Deivison Conceição*
O casal mandacaru
Ele na concepção de um idoso seria descrito desta forma: feio, safado e conversador. Ela, ainda na concepção do idoso, seria: feia, escandalosa e ruim. Para quem não conhece eu apresento: o casal mandacaru ,por que mandacaru? Bem isso direi depois. Eles têm sete filhos, todos distantes, ou seja, estão longe dos pais, sim é por opção mesmo. Eles não aguentaram a falta de vergonha e ética dos seus progenitores. Ela tem a mania de sempre comer fora de casa, mas é na calçada da casa mesmo. Ele acorda às cinco da manhã, o caro leitor deve ter pensado que é por causa justa, mas é para vigiar a rua mesmo. Todos o conhecem como Fifi. Além de tal fama o penitente ainda é conhecido como o gabola da quarta idade, ou seja, não basta ser casado com a rainha da sucata, para o kit ficar completo tem que dizer que adora manter relacionamentos extraconjugais, e detalhe: com garotas jovens. Sei que o leitor está rindo da situação vexaminosa, mas saiba de uma coisa: sim é tudo mentira dele. Se existisse um Pinóquio em cada canto do interior baiano, ele seria o nosso. Ele ama desejar ser tudo aquilo que nunca seria, ou seja, um garanhão.
Ela é toda exótica, sua casa é um mix de quarto de bagunça com corredor do Pelourinho. Verbos que a mesma não conjuga: dar, compartilhar e emprestar. Verbos que ela ama: merecer, ganhar e fofocar. Não gosta de todos os netos, apenas daqueles que de alguma forma parece-se com a bruxa de blair ,ou seja ,ela. Ah já ia esquecendo-me de dizer coisas que não devem faltar aos anexos da ficha criminal do casal: são aposentados, tem duas casas alugadas e tem um boteco típico de halloween, ou seja, só é frequentado no dia das bruxas.
Até agora meu caro vassalo apenas pintei os dois com as cores que achei mais conveniente. Tudo isso com o propósito de contar uma determinada situação. Eles tinham um neto que era diferente dos demais, no quesito orientação sexual. Desde cedo o tal garoto demonstrava isso, mas eles nunca discutiam isso com ninguém, até por que no pequeno Plutão que a mente dos dois habitava, não existia esse negócio de “orientação sexual”. O garoto cresceu, viajou e enfim quando voltou à sua terra que nunca foi um natal para ele, finalmente assumiu:
- Pai (na verdade ele foi criado por eles, ou seja, os avós) eu estou namorando sério. O malaco lascou um sorriso no olhar do neto que se o rapaz não estivesse com o seu Ray Ban caçador, teria ficado cego com aquela imagem “Jason vai para o inferno”.
- Graças a Deus! Quando vou conhecer minha nora?
- Tem uma coisa que preciso te contar, disse o neto.
Nesta hora o macabro notou que alguma coisa estava errada, e logo veio o nó na garganta.
- Diga meu filho.
- Ele mora em santos.
Neste momento o mundo acabou, como ele, logo ele, o senhor da fofoca iria tolerar seus rivais fazendo chacotas de sua sagrada e acabada família? Pensou em bater, chicotear, amarrar e até dar surra de reio cru no pobre do neto, mas foi sensato em se tratando de um morador de Plutão, pediu ao agora “ex-neto” que nunca mais pisasse naquela “casa”. Ele consentiu, mas disse que ainda tinha outra surpresa. O coração do avô quase parou, mas antes que parasse ele pediu em tom violento que seu “ex-neto” saísse dali naquele momento.
Era um dia de domingo quando tal revelação foi feita, a noite chegou e a rua estava bastante movimentada. Quando de repente aparece uma figura travestida com o figurino de uma das personagens do filme Priscila: a rainha do deserto, em cima de uma rural cantando e dançando (sim a rural tinha um som) I wiil survive. A rua parou, as pessoas aglomeravam-se aos montes para assistir aquela performance. Só ouviam-se os burburinhos e gargalhadas, aos poucos as pessoas iam reconhecendo aquela figura. Até que os populares começaram a gritar o nome do neto do Espanta-quarto-sala. O “ex-avô” não acreditou naquela obra de salvador Dali. A avó, que ainda não sabia de nada caiu aos prantos. No fim da performance a rainha do deserto disse:
- Mesmo sem a aprovação de vocês eu serei quem sou: feliz, amado e acima de tudo um excelente ser humano. E lembrem-se: eu sobreviverei.
Desse dia em diante o casal mandacaru nunca mais foi o mesmo. Ele ficou deprimido, cabisbaixo e depressivo, esqueceu-se de olhar a vida alheia. Ela ficou doente, e ninguém ajudou a mesma, ficou à míngua. Na pequena cidade só falavam do acontecimento do século.
Mandacaru? Ah... Não dá sombra, nem encosto.
Deivison Conceição
Deivison Conceição é formado em Letras
 pela D. Fac Luiz, e Coord. Pedag.
da E. M. Dr. Déciode Santana - Curral Falso.

Nenhum comentário: