segunda-feira, 2 de novembro de 2015

"Não quero a faca e nem o queijo: quero a fome" - Experiência missionária em Banzaê



"Não quero a faca e nem o queijo: quero a fome".
Esse trecho de uma poesia de Adélia Prado foi uma das citadas pelo bispo D. Guido Zendron quando visitou a comunidade do Monte no domingo (25), para explicar que o que precisa fazer para despertar o desejo das pessoas de ir em busca de Jesus e Reino, e isso ficou como "tarefa" para todos os animadores de comunidades.
O Monte Nius esteve em Banzaê no sábado (31) quando se encerra esta etapa da visita pastoral de D. Guido, e conversou com ele, com o Pe. João Nascimento e mais três leigos (Gledson, Crisália e Genildo) sobre essa experiência.

A seguir, uma entrevista com D. Guido sobre a visita pastoral.

Monte Nius - Quando o senhor presidiu sua primeira Missa em Banzaê chamou Banzaê de seu "primeiro amor" na diocese, por dois motivos: primeiro pelo fato de - sendo o pastor desse rebanho - amor o povo que Jesus lhe confiou e o outro por Banzaê ter sido a primeira paróquia a ser visitada. Como está sendo essa experiência para o senhor voltar ao "seu primeiro amor" e ficar 15 dias em visita pastoral?

Don Guido - Esta sendo uma experiência muito bonita, em primeiro lugar porque me aproxima do povo, e sendo Banzaê que faz parte da Diocese [da mesma família], é justo que o responsável dessa família conheça o seu próprio rebanho, seu filhos e filhas. E já tinha visitado algumas comunidades, mas não demorando tanto. Então... ver quantas pessoas se dedicam à vida da Igreja, ver quantos estão lutando pelo bem de todos, me dar uma alegria e esperança no coração.

MN - Durante esse 15 de dias experiência, houve algo que lhe marcou, que lhe chamou a atenção?
DG - Como eu já falei: a fé do povo, a abertura, o acolhimento e também como os idosos e doentes são bem cuidados na família, e a participação do povo nos momentos em que estivemos juntos, e também nos desafios sociais - que são muitos os desafios.

MN - As pessoas estão acostumadas (em nossa diocese) em não encontrar o bispo porque ele geralmente está em algum lugar estudando, participando de reuniões do Regional NE2 ou mesmo da CNBB. Seu caso é diferente. O senhor quase não pára, mesmo, em Paulo Afonso mas é fazendo visitas e adquirindo experiência nas viagens para o interior da Diocese, ainda mais esses dias nesse calorão de Banzaê. O que lhe motiva a fazer isso?
DG - Primeiro lugar quando um bispo é nomeado bispo, ele é de toda a diocese, e sempre foi minha atitude ficar muito perto do povo, e particularmente daquele que eu sei que mais sofre. Eu trabalhei, por exemplo, por 14 anos em uma favela de Salvador, então já tinha uma certa experiência com o sofrimento do povo, a grande experiência ali subindo e descendo morro, entrando nas casas para ver e compartilhar a vida do povo, e tentando aplicar o que Papa está sempre pedindo à nós "sentir o cheiro das ovelhas", sentir o sofrimento das periferias existenciais, que não só as periferias geográficas. Os jovens, as aldeias indígenas, os quilombolas... Então sempre me marcou a preocupação de ver como ajudar, na minha diocese, as pessoas que tem mais dificuldades.

MN - Das várias dimensões da Igreja, uma que é muito forte é a social. Falando agora um pouco dessa e da questão política - como o senhor já citou um anteriormente -, o que o senhor observa que esteja bom ou que precise melhorar no político e social de Banzaê? Apesar que notamos que o poder público acompanhou essa visita: a prefeita, a vice-prefeita, teve a sessão na Câmara de Vereadores (para entrega do título de "Cidadão Banzaêense"), o senhor foi nas escolas e secretaria de educação. Como é que o senhor ver essa situação de Banzaê?
DG - Ao contrário de outros municípios por onde passei, aqui não encontrei uma luta muito forte entre situação e oposição. Não sei é porque tudo está dando certo ou se é porque o povo aceita a situação. Eu não quis aprofundar. Eu falei nas secretarias, com a Prefeita de uns pedido que as várias comunidades fizeram. O que eu vejo sempre como problema nas nossas comunidade é a questão das estradas; a questão da educação eu acho que um ponto onde sempre precisamos ter muito cuidado, e da saúde: uns falavam que falta remédio, outros falavam que é difícil a ambulância chegar em certos lugares... então são os três pontos que, ao meu modo de ver, precisamos cuidar e colaborar; numas comunidades pediam uma praça, na outra de tirar o campo de futebol para colocar em outro lugar, em fim. O que eu pude fazer foi levar à Prefeita.

MN - Falando da juventude. Em 2007 a CNBB lançou o documento de nº 85 com o nome  de "Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais", que foi feito em uma época em que não tinha muito as "pressões" tecnológicas que abafava um pouco sua identidade, hoje isso é diferente. O senhor percebeu alguma dificuldade com relação ao envolvimento da juventude na igreja em na paróquia de Banzaê?
DG - Primeiro lugar documento nenhum salva ninguém. Até porque documentos são feitos ali num escritório, se publica e pouco ler os documentos e muito menos anida se aplica o documento; Segundo lugar eu acredito que oque pode e despertar hoje nos jovens de participar da Igreja e seguir a Jesus Cristo, é quando ele encontra testemunhas verdadeiras que se aproxima dos jovens sem cobrar, mas propondo a beleza de uma vida diferente. É o que falava São João Paulo II, o papa Bento XVI e agora o papa Francisco: "Não tenhais medo de abrir o coração a Jesus Cristo, Ele não tira nada e dar tudo." O que eu vejo aqui em Banzaê é muito jovens envolvido na vida paroquial, mas tem uma grande maioria que, nem se quer, sabe onde é a igreja. Coimo é que vamos fazer? Eu lembrava sempre nos encontros de fazer despertar a sede e a fome de Jesus. A sede e a fome de uma vida mais autêntica. E tudo isso, indo nós ao encontro dos jovens: estando perto, compartilhando desejos, perguntas, esporte, lazer, trabalho, mas de uma forma diferente, porque é através da fé que eu posso também renovar a sociedade.

MN - Ainda é cedo para falarmos de "frutos" da visita pastoral. Mas o senhor percebe alguma mudança depois dessa sua visita à Banzaê?
DG - Pelo ao menos nas palavras e promessas do povo. Depois eles quem devem atuar. Eu falo assim: eu fiz a minha parte; eu quis mostrar um cristianismo simples, que não complicado com um conjunto de regras. O cristianismo se faz através de um acontecimento. Por isso a questão das visitas aos idosos e doentes para mim é fundamental. Eu até tinha percebi quando fui visitar uma senhora que ela mora sozinha, logo precisa de uma alguém que vá visitá-la. Muitas vezes nós estamos tão preocupados com a oração, em si, e com a devoção, esquecemos que Jesus compartilhava as necessidades para compartilhar a vida. E aqui tem muitas pessoas disponíveis para ajudar também nas coisas práticas. Outra coisa que eu insisto é questão dos novenários e tríduos para seja valorizada verdadeiramente a cultura e para que eles se tornem experiência de vida, senão todas as noite são como um conjunto de devoções que não trás nenhuma novidade. Não podemos nos iludir que a coisa funciona porque nas noites teve muita gente, muita gente que não gosta de abrir seu coração. Nós devemos partir deste desejo, deste fato, mas sem ter medo de viver algo maior.

MN - Suas considerações finais
DG - Vou responder como respondeu madre Teresa a um jornalista quando ele perguntou ao ver as injustiças na Índia "o que deve mudar para poder mudar esta situação?" E ela respondeu: Em primeiro lugar quem deve mudar sou eu e você. Não posso esperar pelos outros."

Nas próximas edições relataremos como foi essa visita pastoral para o Pe. João Nascimento e para os leigos Gledson, Crisália e Genildo.

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